Viver é fazer meia com uma intenção dos outros. Mas, ao fazê-la, o pensamento é livre, e todos os príncipes encantados podem passear nos seus parques entre mergulho e mergulho da agulha de marfim com bico reverso. Croché das coisas...
(Bernardo Soares, Livro do desassossego)


Sobre a autenticidade, ou a ausência dela

"Uma pessoa autêntica sente profundamente, sabe o que sente e diz o que sabe que sente."

(J.C. Bermejo)

Quantas vezes na vida fomos autênticos? Verdadeiramente autênticos...

A maior parte de nós tem a capacidade de sentir e sente diariamente, com maior ou menor intensidade. Aos infortunados que não sentem, apelidamos de doentes; não os compreendemos, não sabemos lidar com eles. Também a maior parte de nós sabe o que sente. Dos que não sabem, alguns procuram ajuda para aprender, outros vivem angustiados na busca de um sentido. Mas a maior parte de nós tem uma grande dificuldade em dizer o que sabe que sente. Porque teremos tanta dificuldade em abrir o que de mais único há em nós? Dizer o que nos vai na alma expõe-nos aos outros, torna-nos vulneráveis aos seus olhos inquiridores. E porque temos tanta dificuldade de, por vezes, aceitar os sentimentos? Os nossos, os dos outros... Porque temos tanta necessidade de nos defendermos e porque recorremos tantas vezes ao ataque?

A autenticidade dá-nos uma sensação libertadora, mas também nos aterroriza com medo. Implica que nos aceitemos e que aceitemos os outros. A maior parte das vezes não queremos assumir o risco. A maior parte das vezes, simplesmente, não nos permitimos ser autênticos.

1 comentário:

Margarida disse...

Hmmm... não podia concordar mais contigo. E que tal uma sessao de autenticidade entre as duas? Acho que estou a precisar. E quem melhor que tu para me fazer sentir à vontade em ser autêntica?