Viver é fazer meia com uma intenção dos outros. Mas, ao fazê-la, o pensamento é livre, e todos os príncipes encantados podem passear nos seus parques entre mergulho e mergulho da agulha de marfim com bico reverso. Croché das coisas...
(Bernardo Soares, Livro do desassossego)


Esta vida de picheleira

O picheleiro deixou-me pendurada duas vezes...

Mandei-o dar a volta ao bilhar grande e tratei eu das sanitas!

Se fosses um doce...

... serias um marshmallow!

Weeeeeeeeeeeeee!

Já sai auga quentinha lá em casa.

Carta ao Pai Natal


Querido gordo vermelhusco e fofinho:

Este ano fui uma menina bonita e adoptei uma casinha. Depois de dois anos de solidão, dei-lhe amor e carinho e fiz-lhe um check up geral. Fizemos projectos a dois e sonhámos com o arco-íris para colorir as nossas vidas. Precisamos, agora, de rechear esta nova relação com:

- 1 cama;
- 1 placa vitrocerâmica;
- 2 sistemas de descarga para as sanitas;
- 2 suportes para os varões dos roupeiros;
- 1 caixote do lixo;
- 1 máquina de lavar roupa;
- 1 piano;
- 1 mesa e 4 cadeiras;
- 1 sofá;

Sei que andas muito ocupado nesta fase, Pai Natal, por isso não peço muito. Eu prometo financiar, se tu prometeres arranjar uns precinhos em conta e um tempinho extra para ir às lojas certas.

Despeço-me, convicta de que não te esquecerás de mim.

Um abraço quentinho,

Belle

Brincando com o tempo...


"Sou aquilo que serei"

(Moltmann)

A propósito


(Massive Attack - Teardrop)


Uma das minhas grávidas emociona-se sempre que ouvimos os batimentos cardíacos do seu bebé. Sugeri-lhe que os gravasse com o telemóvel... Ela adorou a ideia.

Qual a relação entre um jogo e a gripe?

Esta semana comprei um computador. E o computador novo traz um jogo com uns porquinhos muito castiços. Tenho-me deixado entusiasmar com o dito, tal qual criança com um brinquedo novo!


Curiosamente, nos últimos dias fui atacada por uma forte dor de garganta, uma tossezita e uma ligeira elevação da temperatura. Será que o porco me passou a gripe?!

Chorei, mas não sei se alguém ouviu



Chorei,
Mas não sei se alguém me ouviu
E não sei se quem me viu
Sabe a dor que em mim carrego
e a angústia que se esconde
Vou ser forte e vou-me erguer
E ter coragem de querer
Não ceder, nem desistir eu prometo

Busquei
Nas palavras o conforto
Dancei no silêncio morto
E o escuro revelou que em mim a Luz se esconde
Vou ser forte e vou-me erguer
E ter coragem de querer
Não ceder, nem desistir eu prometo

ERA

"A grandeza de um ideal não está em atingi-lo, mas em lutar por ele. Atingi-lo é simplesmente a recompensa"

(Juan José Medina)

Literalmente...

Parir não é uma questão de êxito ou de fracasso, de bater recordes ou de conseguir um desempenho esplêndido, mas uma questão de entrega, física e espiritual, a uma experiência criativa, em que o amor se torna literalmente carne.

(Sheila Kitzinger)

Vai-me dar água pela barba!

Mete exercícios de Hanon e um metrónomo. Uma verdadeira moca!

Mete as escalas, os arpejos, os acordes e as dominantes, as diminutas, as sensíveis, os trítones e eu sei lá bem que mais...

Mete dedos indisciplinados e um indicador irreverente.

E mete esta delícia...

Simplesmente, glamour!

(Foto de Andreas Stridsberg in www.imagekind.com)

Vesti cetim vermelho e calcei tacão alto. Uma mistura de provocação, de luxúria, de elegância e delicadeza. Nos lábios, o reflexo perfeito do vestido e nos ombros a ingenuidade dos caracóis. No corpo um passo andante grazioso, na alma uma harmonia extrovertida.

Com um brilhozinho nos olhos e um cavalheirismo em vias de extinção, o Eduardo acompanhou-me à cerimónia. A expectativa de um vestido deu lugar a olhares de fascínio, de admiração, de arrebatamento.

A noite foi longa e um pouco cansativa, mas mimou-me o ego!

A primeira...de muitas!


(Foto de RD)


Naquela sala, só eu o piano e o professor. O tempo parou, o meu espaço mental fechou. Toda eu fui música durante aquela hora e meia. Discutimos as vantagens e desvantagens de ter estado confinada todos estes anos a um teclado castrante e descobrimos que, apesar de tudo, a minha força de dedos não está nada má (bendita escalada!). O João brincou com as cordas e com as teclas e com os acordes e eu delirei com a expectativa de aprender aquelas coisas todas. Confesso que me abriu o apetite, não que fosse preciso muito!

Saí da aula com um sorriso rasgado na cara e uma grande alegria na alma. Vim para casa com aquela sensação de felicidade e com uma enorme expectativa da próxima semana. Que saudades eu tinha disto!

Ah...pois é!

Vou ter aulas de piano com este senhor!

Pack de coordenação


- Ganhaste um pack!

- Ganhei?!

- Sim, um pack de coordenação. Inclui uma bolsa de horas para gastar à volta de papéis, um mini-cartão recarregável com falta de tempo para ligar aos amigos, uma caixa hermeticamente fechada para guardar o doutoramento e uma pasta para colocar os assuntos da casa.

- Ah, pois foi... Ganhei um pack de coordenação. Ora bolas, acho que fui enganada!

Tá a despachar essa história do gás!


Deixou de ser projecto e já se tornou realidade. É um sitio acolhedor para trabalhar. Falta-lhe um candeeiro de tecto, o sítio dos recados e talvez até um puff. Acima de tudo, falta-lhe a cor dos livros...

A mim, falta-me não ter de me ir embora quando quero ir dormir! O colchão deve vir esta semana, já facilita. Ter água quente também era capaz de não ser má ideia. Num tá fácil é de arranjar tempo para ir comprar o esquentador novo que a situação exige! Vamos lá ver o que se consegue fazer para agilizar a coisa!

Serra D'Arga


O creminoso volta sempre ao local do creme


(DM)

Puzzle...ing

Gosto de puzzles. Gosto de seleccionar as peças, de procurar os encaixes correspondentes, de imaginar o efeito da pequena parte no todo, de contemplar o crescimento da coisa, da satisfação da obra completa. Gosto mesmo de puzzles.

Ando a fazer uns puzzles 3D fantásticos. Comprei-os numa loja com origem lá para os países nórdicos. É entusiasmante! Tenho um que dá mesmo vontade de sentar e outro que parece uma secretária; e ainda tenho lá um grande para fazer com outra aficionada da montagem de peças. É curioso que lhes chamem móveis.


(Projecto de escritório)

Em família... (ainda as férias)




A voz do pato afinal não era um desacato,
Mas jogos de cena com o ganso eram mato,
E no final foram todos p'ra água
Descansar do matagal

Assim que "vem, vem"
Que o quarteto ficou bem, muito bom, muito bem!

quém, quém

Nas núvens...


(Foto tirada na subida ao Salvaguardia)

As braboletas


"Nós semos as braboletas
Das asas pretas
Da fita azuli
Aboemos à bolta das lâmpadas
Queimemos as asas
Num podemos aboari"


É o que dá ir de férias com crianças... umas de 8, outras de quase 30 e ainda outras de 40!

Vallibierna

A subida por lá acima a toque de caixa (torácica), a aresta de rocha, o passo de cavalo, a cascalheira hueca hueca, a descida (fo...)derrete joelhos... A paisagem linda de morrer... O Carlitos, o Davidinho e o Miguelito; e um arroto à macho!!

Apesar de ter ido ao Aneto um dia depois, confesso que foi este que me encheu as medidas!


(Subida ao cume do Vallibierna)


(Aresta do Vallibierna)


(Passo de cavalo)


(Vista sobre a Sierra Negra, na descida)

Ibón

Se foi (i)bom? Foi (i)maravilhoso!

(Ibón Azul - Batisielles)


(Ibón Bajo - Vallibierna)


(Ibón Alto - Vallibierna)

Pirinéus

Fechado para obras de restauro mental.

Nova funcionalidade

Quando fizer um upgrade do meu cérebro vou-lhe colocar um botão de reset. Dava-me um certo jeitinho, neste momento!

Give me back...

...the fantasy, the dreams, the beliefs. Give me back that child I knew in me!

Esta vida de trolha... VII

... terminou, penso eu de que! E por uns tempos largos, espero.

Vou experimentar...


... no sofá lá de casa, enquanto leio algo verdadeiramente absorvente!




Ou talvez não.

Transições

Hoje, mandaram-me um email que dizia o seguinte:


Um dia o amor virou-se para a amizade e disse:

- para que existes tu, se já existo eu?

A amizade respondeu:

- para repor um sorriso onde tu deixaste uma lágrima.


É curioso teres-me enviado este email, mas talvez até tenha sido intencional. Não sei se te disse que ando desacreditada com a amizade (talvez por isso ande tão fugidia), ou se apenas te disse que ando desacreditada com as pessoas, ou talvez não tenha referido nenhum dos dois. Para dizer a verdade, já não me lembro com exactidão o que disse e como disse. Mas tu compreendeste e a tua compreensão ajudou-me a dar mais um passo nesta minha transição. Obrigada!

Perdendo a virgindade!

(IM, 2006)

Era virgem nestas coisas dos cafés filosóficos... até ontem! Foi a minha primeira vez e foi fantástico!!! Aconteceu depois de dois dias de pensamento crítico. Devagar e com jeitinho, lá fomos entrando nas questões da "verdade". "O que é a verdade?", "A verdade é útil?", "Podemos alcançar a verdade?", "Uma crença pode ser considerada verdade?", "As verdades de hoje, serão as crenças de amanhã?" são questões que nos foram mantendo acesos. Não chegámos a grandes conclusões... ficaram para segundas núpcias as tentativas de uma definição.

Estou a ver-me a ficar viciada nestas vidas!!!

Esta vida de trolha... VI

Isto de ter uma casa tem muitas semelhanças com uma gravidez...

Vejamos:

- Há a fase de decidir engravidar. Eu decidi comprar casa.

- A seguir vem a fase de engravidar. Eu comprei casa.

- Ao que se seguem as dúvidas... no que me vou meter! Humm, humm...

- Algures lá pelo meio a criança começa a mexer. Lá em casa começou tudo a bulir com as obras.

- Compram-se roupas e o carrinho e a banheira. Eu comprei umas coisas giras para a cozinha.

- Depois os pais investem na coisa e interagem com a criança. Eu comecei a pintar a casa.

- Depois a barriga começa a pesar. Pintar a casa tornou-se uma tarefa árdua.


Agora, estou naquela fase em que já nascia!!!


No meio desta brincadeira toda, fui-me vinculando àquele espaço. A total integração na identidade só vem depois, tal como acontece na maternidade. A mim, ainda me faltam algumas coisas para o enxoval estar completo... vá, pronto, falta-me tudo. Mas um dia, vou sentir aquele espaço totalmente como meu. Estou ansiosa por isso.

Tripa na gema

Enquanto escrevia o post anterior assomou-se-me a questão técnica: é "cobardia" ou "covardia"? Tive de ir confirmar ao dicionário! Confesso que esta questão dos "b's" e dos "v's", muito própria dos tripeiros, também me toca um bocadinho. É com regular frequência que uso o tão apreciado "b" em vez do "v". Agora, ficar confusa na forma como se escrevem as palavras, nunca me tinha acontecido!

Oh meu deus... É o que tenho a dizer!

Carro mau!!

Hoje, enquanto passeava, o bolinhas foi atacado e mordido por uma passat agressiva e de dente afiado. Portou-se como um valente e não se deixou ficar. A passat, essa, fugiu como uma cobarde. Deixa estar, bolinhas, que ela há-de voltar com o escape entre as pernas e a ganir!

Esta vida de trolha... V

Dissertações fotográficas:









Running...

(Amesterdão, 2008)

Esta vida de trolha... IV

... é muito solitária, cansa e nunca mais acaba!!

Pronto, já me queixei.

Injustiças da vida

Ontem tive de administrar uma injecção a um rapaz de 21 anos. Poderia ter sido uma como tantas outras. Mas não foi. Este rapaz em particular, o Carlos, tocou-me profundamente o coração. Tinha acabado no dia anterior um ciclo de quimioterapia e estava ali para tomar um medicamento que iria ajudar a diminuir os efeitos secundários.

Trazia garra no olhar, o Carlos. Era um rapaz engraçado e parecia querido; um rapaz que parecia enfrentar a vida com coragem. Quase podia jurar que entrou na sala com um sorriso, mas não tenho a certeza. Pedi uns minutos para me inteirar do que ia administrar e ele explicou-me quando e onde costumava fazer. Detesto esta injecção - disse-me - detesto porque é na barriga. Tentou negociar comigo se poderia ser noutro sitio. Tive de lhe dizer que, noutro sítio, o tempo de absorção seria diferente e que não sabia se isso era importante para este medicamento em particular. Assentiu, sem qualquer resistência.

Sentou-se na marquesa encostada à parede e reparei que as mãos dele tremiam. Sentei-me ao lado dele e esperámos, em silêncio, que se sentisse preparado. Respirou fundo, olhou para mim e levantou a camisola. Foi doloroso.

Mesmo antes de deixar a sala, agradeceu-me com um sorriso sincero, assim me pareceu, que eu retribuí. Senti as lágrimas a caírem-me pela cara abaixo. Partiu-se-me o coração!



Obrigada Carlos, por me lembrares que tenho toda a liberdade para sonhar.

Diálogos

- Estás a falar sozinha?

- Não. Estou a falar comigo, a pessoa que melhor me entende!



(Obrigada Isa, é isso mesmo!)

La toma

Fui ontem ao Gato Vadio ver a exibição de um filme documental sobre a crise económica na Argentina e as alternativas a um sistema desgastado. O documentário mostra vários grupos de trabalhadores que decidiram, após a falência e encerramento da fábrica onde trabalhavam, tomar eles próprios o controle, criar as suas próprias regras e pôr em marcha a produção. Mostra como esses trabalhadores conseguiram não só manter a fábrica em funcionamento, mas também criar postos de trabalho. Questiona o sistema económico actual, questiona as regras do FMI, questiona o sistema político e deixa-nos a pensar para onde estaremos a caminhar. Fiquei a saber que existe um caso destes em Portugal. Uma empresa de confecções em Arcos de Valdevez que, 3 anos após "la toma" pelos trabalhadores, conseguiu liquidar as dívidas que tinha e criar postos de trabalho. Dá que pensar...

Deixo o primeiro trecho, para aguçar a curiosidade e o link para os restantes, para quem quiser ver o filme na integra.





http://www.youtube.com/watch?v=GsacA7Jasaw

http://www.youtube.com/watch?v=rfbztoTXlXk


http://www.youtube.com/watch?v=toFqvh2Ktoc


http://www.youtube.com/watch?v=F5eRo7TPSms

http://www.youtube.com/watch?v=19j_T1WeGlo

http://www.youtube.com/watch?v=eyMQ1hfyOAA

http://www.youtube.com/watch?v=HelwFDhZoMs


http://www.youtube.com/watch?v=tr8ZyoxdnYM

Lá fora, chove...




Às vezes, as coisas mais bonitas são as mais simples.

Eureka



Certo dia, a música tem um encontro imediato com a geometria. Nunca mais as escalas foram as mesmas.

Feel like dancing?



Estava, mais uma vez, parada no trânsito e soou isto das colunas fantásticas do meu carro. Deu-me uma enorme vontade de dançar. Veio-me à ideia o andanças e lembrei-me que já não está longe. Um shot de energia mesmo a calhar, depois de um dia de trabalhos esforçados.

Missing already

(Porto, 2009)

Porque não?



A minha costela clássica é pesada, muito pesada... não sei se a consigo deixar, não sei se quero. Mas o fascínio pelo jazz, esse mundo misterioso da criatividade, também é grande. Poder entrar num, sem ter de deixar o outro é uma ideia que me agrada. É uma ideia que olho com muito respeito. Mas, quem sabe?... Pode ser que me dê para aventuras...

Sobre a autenticidade, ou a ausência dela

"Uma pessoa autêntica sente profundamente, sabe o que sente e diz o que sabe que sente."

(J.C. Bermejo)

Quantas vezes na vida fomos autênticos? Verdadeiramente autênticos...

A maior parte de nós tem a capacidade de sentir e sente diariamente, com maior ou menor intensidade. Aos infortunados que não sentem, apelidamos de doentes; não os compreendemos, não sabemos lidar com eles. Também a maior parte de nós sabe o que sente. Dos que não sabem, alguns procuram ajuda para aprender, outros vivem angustiados na busca de um sentido. Mas a maior parte de nós tem uma grande dificuldade em dizer o que sabe que sente. Porque teremos tanta dificuldade em abrir o que de mais único há em nós? Dizer o que nos vai na alma expõe-nos aos outros, torna-nos vulneráveis aos seus olhos inquiridores. E porque temos tanta dificuldade de, por vezes, aceitar os sentimentos? Os nossos, os dos outros... Porque temos tanta necessidade de nos defendermos e porque recorremos tantas vezes ao ataque?

A autenticidade dá-nos uma sensação libertadora, mas também nos aterroriza com medo. Implica que nos aceitemos e que aceitemos os outros. A maior parte das vezes não queremos assumir o risco. A maior parte das vezes, simplesmente, não nos permitimos ser autênticos.

Hold on...




Umas vezes magoamos, outras somos magoados. Custa muito e, por vezes, perdemos a direcção, o sentido... Ao chegar ao fim do dia, sobram-nos os sentimentos que se entranham... os que não compreendemos, os que escondemos, os que combatemos, os que toleramos e os que nos tornam mais fortes. Felizmente, temos a consciência... a consciência de nós próprios, a consciência dos outros. E, então talvez, com esforço e alguma sabedoria, encontremos o caminho de volta.

Esta vida de trolha...III

Pôr massa nas paredes é algo que não imaginava que viesse a fazer. Mas lá diz o ditado, a necessidade faz o ladrão! Comprei massa e espátula, procurei umas dicas e lá ando a desenhar teias nas paredes.

Quando me perguntam como vão as pinturas, eu conto as minhas aventuras. Dá-lhes para ficarem impressionados... Não percebo bem porquê! Parece-me uma tarefa simples. Das duas uma, ou estou a fazer asneira como gente grande ou, de facto, eu sou um espectáculo!!! Espero, sinceramente, que seja a segunda...

Fenomenal!!



Uma pitada de loucura, duas ou três histórias e um elogio à plateia do Norte deram um certo aconchego. A construção da música é fascinante, o resultado é envolvente... simplesmente, imperdível. Bird faz a festa sozinho e fá-la com uma pinta do caraças. Um dos melhores concertos a que me lembro de ter assistido.

Esta vida de trolha... II

Segundo passo... levar 2 latas de 20Lt de tinta do carro até ao elevador.

Um dia ainda vou pagar caro esta proeza!!!

Esta vida de trolha... I

Depois de um grande buraco na parede, um chão reluzente (lindo de se ver) e uns armários xpto, é a minha vez de dar o corpo ao manifesto... há que pintar a casa! Primeiro passo... comprar as tintas! Branco.

- Mas que branco é que pretende? Perguntam-me.
Branco é branco - penso eu -, qual é a dúvida?...

E eis que o senhor saca de um catálogo de brancos, 15 brancos à minha escolha! É o branco sujo, o branco nuvem, o branco camélia, o branco apricot, o branco creme, o branco baunilha (começa a dar-me a fome)... que se podem ter em várias combinações de acabamento brilhante ou acetinado ou mate! Bolas, vou ter de pensar melhor no assunto!!!


Dirijo-me a outra marca, pode ser que a coisa seja mais fácil!

- Menina, temos uma gama nova, que não deixa marcas de rolos e que permite ir atrás corrigir erros, se for preciso. Ah, e está em promoção, porque está em campanha de lançamento.
Ora... tinta para totós, branca e ainda por cima em promoção. Perfeito! Compro!!

Dia Internacional do Chocolate

Não é... Mas podia ser! Não sei se existe um dia dedicado a esta maravilha do mundo, mas devia haver. Há dias para tudo, porque não também para o chocolate.

Recriminado pelos diabéticos, acusado pelos obesos, repudiado pelos nutricionistas. Há quem lhe atribua propriedades psicofarmacológicas e quimiossensoriais; há quem o considere afrodisíaco e estimulante; há quem lhe chame antidepressivo natural. Apontado como causa de adicção, tem uma relação muito peculiar com as mulheres e um papel importante entre os namorados.

Uma coisa é certa, faz as maravilhas de muita gente. Devia ser comemorado e, se possível, todos os dias!!

Na vadiagem, novamente!

Foi um sonho que eu tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe.

O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão;
E a estrela ia subindo, azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão.

Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel.
E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel.

(Brinquedo, Miguel Torga)

Encore


(Pavane pour une infante défunte, Maurice Ravel)

Ísis + Bel

Revelação da sabedoria da mãe divina

A luz dos olhos teus

E um tango sobre o gelo.





Sentou-se ao meu lado. Não nos conhecíamos. Fez um breve comentário sobre alguma coisa e começámos a trocar impressões sobre o concerto.

Consoante nos dirigíamos para a saída, continuámos a trocar sons, palavras, ideias... o comportamento das crianças, a importância da música, a beleza do Porto, livros. No caminho, mostrou-me pormenores que me haviam passado despercebidos até hoje. Falou-me de significados.

Despedimos-nos e disse-me "obrigado pela luz da sua presença". Deixámos à vontade do acaso um novo encontro.

Houve uma subtil ligação, um reconhecimento da existência, uma admiração espontânea. E foi como que um breve tango, que ambos elogiámos com um olhar.

Saudade

(Galiza, 2005)

Entrada livre



No Festival de Jazz de Matosinhos

'98 - '02



Isto lembra-me que uma amiga está a tentar juntar os 150 cromos (bolas, éramos mais que as mães!) do curso de 98. O meu primeiro comentário foi "Estás louca! Isso vai dar uma trabalheira do caraças!" Mas pensando bem, acho que vale a pena o esforço. Talvez lhe dê alguma ajuda...

Espero sinceramente que consiga. Eu lá estarei.

United Colors of Spring

(Gerês, 2009)

Charging...

(Prado da Rocalva, Gerês, 2009)

1 dose de sol bem servida
1/2 dose de coça no corpo
1 e 1/2 dose de silêncio
sestas q.b.

Poesia e uma voz sussurrante

Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto
Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo.
Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes
Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas,
Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu.

Grandes são os desertos, minha alma!
Grandes são os desertos.

Não tirei bilhete para a vida,
Errei a porta do sentimento,
Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse.
Hoje não me resta, em vésperas de viagem,
Com a mala aberta esperando a arrumação adiada,
Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem,
Hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado)
Senão saber isto:
Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Grande é a vida, e não vale a pena haver vida,

Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar
Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem)
Acendo o cigarro para adiar a viagem,
Para adiar todas as viagens.
Para adiar o universo inteiro.

Volta amanhã, realidade!
Basta por hoje, gentes!
Adia-te, presente absoluto!
Mais vale não ser que ser assim.

Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro,
E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito.

Mas tenho que arrumar a mala,
Tenho por força que arrumar a mala,
A mala.

Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão.
Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala.
Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas,
A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino.

Tenho que arrumar a mala de ser.
Tenho que existir a arrumar malas.
A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte.
Olho para o lado, verifico que estou a dormir.
Sei só que tenho que arrumar a mala,
E que os desertos são grandes e tudo é deserto,
E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci.
Ergo-me de repente todos os Césares.
Vou definitivamente arrumar a mala.
Arre, hei-de arrumá-la e fechá-la;
Hei-de vê-la levar de aqui,
Hei-de existir independentemente dela.
Grandes são os desertos e tudo é deserto,
Salvo erro, naturalmente.
Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado!
Mais vale arrumar a mala.
Fim.


(Grandes são os desertos, Álvaro de Campos)

Manhã de segunda-feira



Estava hoje no trânsito, pela manhã, quando passam esta coisa na rádio. Foi quase orgásmico! Este senhor mexe com qualquer coisa cá dentro. Que boa maneira de começar o dia e a semana.

Valeu a pena?



Trouxe este álbum durante algum tempo no carro. Ouvi-o vezes sem conta nas muitas viagens que fiz. Recorda-me, naturalmente, um período muito específico da minha vida. Um período difícil, que ultrapassei porque não tinha outra alternativa... Mas sem saber como!

Foram momentos em que engoli sapos e tolhi impulsos. Foram momentos de braços de ferro na defesa de ideias. Momentos em que tentei olhar para aquilo que de bom têm as pessoas, sem me deixar afectar com o que têm de mau. Foram muitas as refeições ao som de Aimee Mann! Foram muitos os sinais vermelhos em que descansei os olhos! Foram muitas as saudades dos que me eram queridos!

Dois anos de oportunidades intensas de aprendizagem, que me permitiram crescer e perceber a diferença que faz dar de mim aos outros. Momentos difíceis, mas especiais. Foi com emoção que, hoje, os recordei.

Comemore-se



É com grande admiração que penso nos portugueses que fizeram uma revolução sem tiros, sem mortes, sem violência. Gente com a coragem de lutar por um mundo melhor; gente com respeito por si, pelos outros, pela vida. São este momentos que me deixam orgulhosa de ser portuguesa.

Somos feitos do material com que se tecem os sonhos

Contam-se pelos dedos as vezes em que me lembro do que sonho durante a noite. Isso sempre significou que durmo que nem um calhau e sempre me deu grande prazer o descanso que essas noites me proporcionam.

Agora, deu-me para me angustiar por acordar sem a mínima noção do que acontece durante a noite. Apenas sei que o tempo passa. Angustia-me não ter consciência do que se passa no meu cérebro durante aquelas horas. O que andará ele a cogitar? Com que sonho afinal? Será que sonho mesmo?!

Era só o que me faltava!!! Quero as minhas noites de sono pleno de volta!

Andaimes

(Casa, 2009)


Uma parede por cair
Chão para restaurar
Uma porta que deixa de existir
E pinturas até fartar

Um canto para ler
Um quarto para jardinar
Uma superfície pro que apetecer
E um piano para completar

No branco das paredes
Cores hão-de nascer
Já se vislumbra o entusiasmo a crescer

Pensamento orgásmico

Afinal, há luar!




A lua tem soado cá em casa!

... e etc.

(IM, 2009)
" Os homens vivem como se nunca fossem morrer...
... e morrem como se nunca tivessem vivido."

(Dalai Lama)

Petit-déjeuner à trois

(Museu de Serralves, Porto, 2009)


Bonsoir, dit-elle, est-ce libre?
Bonjour, dit le vieil homme,
Oui ces deux, à cette table sont encore libre.
Elle sourit et prend place.
Voulez vous déjeuner avec moi?
À trois le plaisir est bien plus grand.
Mais ce pas trop tard pour déjeuner?
Et pourquoi à trois?
Ce n'est jamais trop tard,
Mademoiselle, trois petits déjeuner s'íl vous plait.

La nuit tombe, le jour passe...
Ou bien est-ce la nuit qui passe et le jour qui se lève?
Nuit et jour en même temp
Le soleil montre le temps, pourtant le soleil n'a pas de temps.

Elle prend deux morceaux de sucre, un coeur, un dé.
Comment prenez-vous votre café?
Avec du lait, sans sucre
Dans ma vie il y a que des douceurs
Je la porte dans mon coeur et aus creux de mes mains,
Ainsi la chance me sourit toujours aux dés
Puisque sept précède le quatre.

Elle voulait être libre.
Mais qui peut apercevoir les étoiles le jour,
Le soleil brille toujours pour celui qui sait le voir!

Etes-vous un joueur?
Oui je le toujours étais, car la vie est mon jeu.
Il déjeune le soir, son jeu est la vie, rare mais charmant.
Avez-vous déjà gagné? Demand t-elle.
Depuis que je sais qui joue avec qui et que demain, aujourd'hui c'est hier, oui!
Dans ce jeu il n'y a que des gagnants.
Un jeu sans perdants,
Tout est emprunté, a qui?
A celui qui laisse les fleurs s'épanouir.

Est-ce que le café est bon? Demande t-il.
Oui, mais pourquoi parliez-vous de petit-déjeuner à trois?
Nous ne sommes que deux à cette table.
Deux couleurs nous guident, le noir et le blanc.
Le blanc serait-il le bon et le noir le mauvais?
Ou bien... le noir le bon et le blanc le mauvais?
Les deux sont justes ou bien aucun des deux.
Bon, vous ne voyez que nous deux, car vous n'avez que deux yeux jusqu'à présent, dit-il.
Mais oui c'est tout à fait normal!
La terre est plate,
La terre est le centre de l'universe,
L'homme est le couronnement de la création.
Est ce normal?
Les jeux sont faits, rien ne va plus, la roue se met à tourner...

(Une table à trois, Zen Men)

Discurso sobre o absurdo

À procura de eventos que me pudessem eventualmente interessar, surgiu-me a video-instalação "Pata-lugares" de Né Barros. Uma instalação criada a partir das conferências "Patafísica" organizadas pela ESAP curso de artes plásticas (bla... bla... bla...).

Patafísica... uma palavra que imediatamente soou a algo cómico no meu cérebro. Estes artistas têm mesmo a mania, pensei eu... lá queriam dar um nome engraçado e criativo às conferências e puf... fez-se a patafísica! Fui procurar informação sobre as ditas... E não é que a primeira coisa que aparece no google é um artigo da wikipédia a dizer que a patafísica ah e tal ciência, ah e tal das soluções imaginárias, ah e tal do absurdo... Fiquei perplexa!!! Afinal existe e até é um género de corrente artística!!! Santa ignorância!

Cheia de curiosidade, desafiei uma amiga, também dada a estas coisas do absurdo e fomos ver. Ficou um bocadinho aquém das expectativas... Mas inspiradas pelo minimalismo do absurdo no vídeo, ou não, deu-nos para dissertar, na viagem de regresso, sobre os "guizos" das aves e tentar fazer toda uma retrospectiva da cópula, entre outros, dos patos. Foi um pato-diálogo, num pato-lugar, que bem poderia ter acabado numa pato-instalação.

Singing lullabies

Cheiro a memórias desbotadas

Fui à vandoma. À chegada, um mar de gente. Vende-se de tudo... Chaves sem fechadura, televisões possivelmente avariadas, bonecos esfarrapados, giradiscos, telefones do tempo do bisavô, máquinas fotográficas do tempo do daguerre, pechisbeques e muitas coisas que entrariam na categoria dos inclassificáveis. Uma gigantesca montra de matéria prima para artistas!

E eis que no meio de verdadeiras relíquias, cheiro a velho, pó e regateios surge o mítico som dos anos 80. Lembrei-me imediatamente dos pitufos e daquele pátio nas traseiras onde levávamos os baloiços ao limite, fazíamos clubes manhosos e onde fizemos a festa da lambada!! No tempo em que ser criança era uma aventura!

Looking over some ideas

(Foto retirada da net)


Soa bem, não soa?

Rules...

Are rules making us less wiser? Why do we learn rules in the first place? People say it's important to learn rules so we can live in society and so we can learn how to break them. I can't say rules aren't important. We live in a very complex society, with very complex relations. But I can't help questioning myself who's making the rules and what purpose do they serve? And it's also difficult not questioning the reason why people follow the rules like there's nothing else in the world, believing in the values under them like absolut truth. So who's teaching us how to break these rules, when to break them and under what circumstances? Do we have to learn it by ourselves, with our own experiences? How do we do that?

I leave you with the words of Barry Schwartz.


O nome da rosa...

(IM, 2009)

... Carolina!

Obrigada!

Tinha acabado de jantar e fui desafiada pela mãe com um biscoito. Olhei para o dito, seco e inerte, com algum desprezo, confesso. Não me estava a apetecer bicoitos depois de jantar; ainda se fosse ao lanche, com o chá... Mas não podia recusar a gentileza. Lá meti o biscoito à boca e dei-lhe uma trincadela. Pois não é que as entranhas do sacana eram de um chocolate derretido maravilhoso!!! Ninguém diria!!! Degustei aquele chocolate surpresa, juntamente com o biscoito ligeiramente salgado e, por uns segundos, o tempo parou. Apercebi-me então, do sorrisinho malandro da mãe que dizia "já valeu a pena o dinheiro que paguei por eles"! Ciente do aspecto enganador do biscoito e da sua real natureza, quis apenas deleitar-se com a minha reacção. Chamam-se fascínios de chocolate (terá sido, por ventura, a curiosidade de saber onde raio estaría o chocolate que a levou a comprá-los!) e foi uma surpresa do melhor que há!

Coisas que ficam


(Querido diário, Ana Sofia Gonçalves)

Caixinhas de sonhos em exposição numa galeria no Porto

Contributos II

A estatística diz tudo o que quisermos... só depende do grau de tortura a que somos capazes de a submeter!

(Henrique Barros)

Momentos singelos



Livros, muitos livros...
Jogos de luz, de imagens, de sons e de silêncios...
Frutos do bosque... trilobites de canela...
Palavras, sorrisos, olhares...
Dedilhados arrepiantes e uma cumplicidade aquosa!

Procura-se

Alguém suficientemente enraivecido para deitar uma parede abaixo!

Tomamos um martini?

Penso, logo...

Há quem pense, logo exista... Outros há que pensam, logo exaustos! Também há os que pensam, logo dizem; para não falar do penso, logo adesivo que se aplica a uma pequena minoria. Consigo rever-me em todos eles, mas, estes dias, ando mais numa de penso, logo higiénico!

Afinal...

Sempre recusei a ideia! Nos últimos tempos, andava a desconfiar... Hoje tirei as dúvidas. Afinal sou feminista!!!
Revolto-me, logo sou!

(Albert Camus)

Pontos de crochet

Comecei, recentemente, a ler uma das obras mais famosas de Richard Dawkins - O gene egoísta. A verdade é que a genética sempre me fascinou; mas também é verdade que muita coisa me fascina e, por isso, nunca aprofundei mais do que o estritamente necessário, decorrente da minha formação profissional. Decidi alterar um bocadinho esta tendência, ou pelo menos tentar.
Pelo que li até agora, e espero estar a interpretar o que o autor quis dizer, Dawkins tem dado algumas noções de como terá ocorrido a evolução, desde o caldo primitivo até aos nossos dias. Tem argumentado a favor do gene enquanto unidade de evolução e tem explorado o conceito de Homem enquanto máquina de sobrevivência do próprio gene, num mundo regido pela lei do mais forte.
Se os genes nos "fizeram" máquinas da sua própria sobrevivência, porque envelhecemos e morremos nós? É a questão que o autor coloca na página que acabei de ler. Para dar algum tipo de resposta a esta pergunta, Dawkins recorre a alguns autores, nomeadamente à teoria de Medawar. Não me vou prender com a teoria em si, porque o meu objectivo é chegar a um pequeno pormenor que a teoria revela. Diz Dawkins:
"Abrindo um parêntese, uma das boas características desta teoria é conduzir-nos a algumas especulações bastante interessantes. Decorre dela, por exemplo, que, se quiséssemos prolongar a duração da vida humana, haveria duas maneiras gerais pelas quais poderíamos fazê-lo. Em primeiro lugar, poderíamos impedir a reprodução antes de uma certa idade, digamos, antes dos 40 anos. Depois de alguns séculos, o limite mínimo de idade seria aumentado para 50, e assim por diante. É presumível que, por este processo, a longevidade humana se estendesse até vários séculos."
Não pude deixar de fazer uma associação que me congelou por alguns momentos. A esperança média de vida tem aumentado, assim como a idade materna aquando do primeiro filho. Ou seja, a longevidade humana aumentou; vivemos, em média, mais anos. Pelo seu lado, as mulheres têm filhos mais tarde, sendo cada vez mais frequente terem o primeiro filhos depois dos 35 anos. Sempre atribuí o aumento da esperança média de vida aos avanços da tecnologia e da medicina. Da mesma maneira, sempre atribuí o aumento da idade materna às circunstância de vida e às expectativas e intenções humanas. Poderá esta concepção ser completamente errada e estes dois fenómenos estarem interligados entre si e não serem mais do que o reflexo da evolução genética? Do que a tentativa dos genes prolongarem a sua própria existência? Sou tentada a imaginar os genes como seres maquiavélicos e manipuladores (e começa a fazer todo o sentido o termo egoísta) e os humanos como robots que cumprem ordens!
Para quem valoriza a consciência, liberdade e auto-determinação esta perspectiva poderá ser assustadora. Até que ponto somos controlados pelos genes e até que ponto a nossa consciência tem uma palavra a dizer? Diz o resumo do livro que o autor "acalenta a esperança de que a nossa espécie - e apenas ela - consiga rebelar-se contra os desígnios do gene egoísta." Assim sendo, espero que estas questões existenciais decorram do facto de eu apenas ter lido 3 dos 13 capítulos do livro. De qualquer das maneiras, ocorreu-me esta questão e pareceu-me pertinente reflectir sobre isto.

Parece primavera!

Seduzida pelo sol, tomei a direcção do mar. No caminho, passei por uma avenida carregada de flores. Muito femininas, algo brancas, algo rosa, escorregavam de troncos de árvore, muito masculinos. Uma dança sensual que presenteou a minha viagem com a fertilidade da imaginação.

Chegada ao destino, fui rodeada pelos gritos desenfreados das ondas e pelas cores alegres daquela gente de tamanho pequeno. Escolhi um pedaço de relva fofa e deixei que o astro brilhante me assediasse as maçãs do rosto. Sorri... sentei-me... fechei os olhos... deitei-me... Contemplei o sabor quente dos raios na pele e deliciei-me a ler as páginas que seleccionei para o dia, ao som do meu amigo de longa data.

A meio da tarde, dei-me à tentação de provar um crepe besuntado de chocolate com textura aveludada, nozes deliciosamente crocantes e uma substância branca muito macia. E toda eu fui gula durante aquele espaço de tempo que não sei precisar. Apenas me lembro da intensidade de sabores que a minha língua e o meu palato muito atenciosamente me agradeceram. Voltei à relva, ao livro, à música e ao sol e permaneci por ali até o céu se tingir de vermelho muito vivo.

Eram, então, horas da despedida. Disse adeus ao astro, acariciei a relva em tom de apreço e dei um beijo de boa noite às palavras que estusiasmadamente me acompanharam. Senti um frio atrevido a tentar invadir-me as malhas do casaco e apressei-me em direcção ao aconchego do meu companheiro de viagem. O dia acabara, dava lugar ao negro da noite. Era o mote para voltar ao ponto de onde partira.

E se perder uma gotinha?!

Discos perdidos

Não me f**** o juízo

Numa das minhas incursões pelas livrarias, chamou-me a atenção o livro mais recente de Colin McGinn intitulado "Não me f**** o juízo". Imediatamente o agarrei e desfolhei, percebendo que se tratava de um ensaio de âmbito filosófico sobre foder o juízo (ou fornicar o juízo ou queca mental, sinónimos também sugeridos). Comprei!

Não descansei enquanto não o li... Aqui ficam uns excertos.


"Uma coisa é estar rodeado de tretas. Outra completamente diferente é que nos fodam o juízo. A primeira é irritante, mas a segunda é violenta e invasiva (excepto quando consentida). Se alguém lhe manipular os pensamentos e as emoções, lixando-lhe a cabeça, é natural que fique ressentido (...)."

"Pode a mente foder o juízo a si própria? Haverá psicofodas reflexivas? (...) Acreditar firmemente nas coisas que as nossas próprias fraquezas psicológicas nos sugerem e enaltecem, a despeito de quaisquer justificações racionais, é um exemplo de psicofoda reflexiva (...)."

Par de botas

(Alpes, 2006)

Desta vez ficaram em casa...

Na vadiagem com gatos!

O poeta está só, completamente só.
Do nariz vai tirando alguns minutos
De abstracção, alguns minutos
Do nariz para o chão
Ou colados sob o tampo da mesa
Onde o poeta é todo cotovelos
E espera um minuto de beleza.
Mas o poeta é aos novelos;
Mas o poeta já não tem a certeza
De segurar a musa, aquela
que tantas vezes, arrastou pelos cabelos...
A mosca Albertina, que ele domesticava,
Vem agora ao papel, como um insecto-insulto,
Mas fingindo que o poeta a esperava...

Quase mulher e muito mosca,
Albertina quer o poeta para si,
Quer sem versos o poeta.
Por isso fica, mosca-mulher, por ali...

- Albertina!, deixa-me em paz, consente
Que eu falhe neste papel tão branco e insolente
Onde belo e ausente um verso eu sei que está!

- Albertina! eu quero um verso que não há!

Conjugal, provocante, moreno e azulado,
O insecto levanta, revoluteia, desce
E, em lugar do verso que não aparece,
No papel se demora como um insulto alado.

E o poeta sai de chôfre, por uns tempos desalmado...

(Alexandre O'Neil)

Corticóide, precisa-se!

Quem conta um conto acrescenta um ponto, diz o ditado português... e diz muito bem! Mas também há aqueles que a um ponto acrescentam um conto, numa confabulação mirabolante de factos. Devo dizer que nada tenho contra as confabulações, muito pelo contrário; até me causam algum entusiasmo mental, quando dão mostras de expressão criativa e liberdade de processos cognitivos.
Depois há os que a alhos respondem com bugalhos, não se percebendo se pela ausência de compreensão dos conceitos ou se pela incompreensão da ausência de relação entre eles. Mais uma vez, nada tenho a apontar aos alhos e aos bugalhos, se estivermos numa tentativa de explorar conceitos e relações pouco convencionais e, às vezes, um tanto absurdas. Até me atreveria a dizer que é preciso quem o faça.
O que me causa algum prurido mental é a associação de confabulações, alhos e bugalhos, tudo na mesma cabeça e ao mesmo tempo, para dar resposta a problemas reais e bem concretos. Ter de conviver diariamente com esta anomia e esta desconexão neuronal causa-me uma comichão incontrolável.
Até onde irá a irresponsabilidade e a condescendência?!!

acigàm alenaj

(California Zephir, 2007)

Ser ou não ser

(Chicago, 2007)

Because...


Yellow Bunny seguiu o seu caminho!



You know why!

Coincidências encantadoras

O papel estava na porta do frigorífico! Acrescentámos mais duas ou três ideias e voltou para o sítio onde esteve dois anos, talvez menos um bocadinho. Desta vez, com um toque de olhar, comprometemo-nos a criar as condições para as pôr em prática.

O engraçado é que recordei o projecto, assim de repente... E a ideia entusiasmou-me. O engraçado é que nos encontrámos, por coincidência, depois de um ano sem contacto! O engraçado é que eu nem me lembrava da existência do papel onde rascunhámos meia dúzia de pensamentos. O surpreendente é que ela guardou o papel e o pendurou na porta do frigorífico, onde ficou dois anos à minha espera!

A sintonia com que nos deparámos, naquele momento, foi deliciosa! E foi como se ela sempre soubesse que este momento acabaria por chegar.