Viver é fazer meia com uma intenção dos outros. Mas, ao fazê-la, o pensamento é livre, e todos os príncipes encantados podem passear nos seus parques entre mergulho e mergulho da agulha de marfim com bico reverso. Croché das coisas...
(Bernardo Soares, Livro do desassossego)


Feeling weird?

Have no fear of perfection, you'll never reach it

(Salvador Dali)

Chocolatoterapia

(Foto tirada num dos muitos festivais de chocolate de Óbidos)

Fly like a bird

Apenas com um violino e uns pedais que controlam gravações e reproduções, este senhor faz esta maravilha. Diz, quem já viu ao vivo, que é fantástico!

Faz-me cócegas!

Eins
Zwei
Drei
Vier
Fünf
Sechs
Sieben
Acht
Neun
Zehn

Fascinante!

Vinha no carro a ouvir Petra Haden e deu-me uma enorme vontade de cantar. Nada me impediu, nem mesmo um sentimento de vergonha, já que eu própria era a minha única companhia. Comecei a trautear, a fazer as entoações e as variações. Para uma leiga na arte do canto até nem me saí nada mal!

De repente, dei comigo a pensar... Como é que o meu cérebro sabe como distender e relaxar as minhas cordas vocais, em que posição as colocar exactamente para que, ao passar o ar, vibrem e produzam aquele tom e só aquele; para depois, muito repentinamente, mudar para outro e para outro e para outro.

Tentei imaginar o trajecto neuronal para que isto acontecesse, as milhares de sinapses envolvidas. Será que o meu cérebro evocou "representações disposicionais" (vulgarmente conhecidas por memória), que foi armazenando ao longo dos tempos, enquanto ouvia música? Ou será que, antes pelo contrário, se limitou a reproduzir com algum grau de semelhança, a pedido de uma outra parte do meu cérebro, a informação que estava nesse mesmo momento a chegar aos córtices sensoriais iniciais (basicamente, aquilo que primeiro processa a informação vinda do exterior)? Será que não fez nada disto ou será fez uma mistura de ambos e por isso é que eu acho que até nem me saí nada mal? É que, para dizer a verdade, eu já conhecia a música, já a tinha ouvido várias vezes. Mas se, neste preciso momento, a tentar trautear de novo, enquanto não a ouço, não sai nada que seja sequer parecido!

Fosse qual fosse o processo, não deixa de ser fascinante imaginar os quilómetros de axónios que foram accionados e a rapidez com que deram resposta. Imaginar o tumulto que aqui vai quando recebemos informação, quando a modificamos ao longo dos nosso próprios circuitos neuronais e a damos de volta ao mundo exterior. Uma informação que pode, à partida não parecer diferente, mas que já foi sujeita a trajectos e a processos muito próprios de cada um. E é fascinante como a única coisa que foi consciente em todo o processo foi a vontade de cantar.

Deliciem-se a entoar!


Ainda me lembro bem de ouvir os sitiados, lá nos inícios da minha adolescência, a cantar a "vida de marinheiro" ou o "vamos ao circo". Ainda me lembro de cantar vezes sem conta, de correr e saltar ao seu som. Ainda me lembro bem da cara do vocalista do grupo, uma figura, penso, marcante. Apesar de não ser grande fã do seu trabalho, não estando sequer ciente do que tinha desenvolvido depois dos sitiados, foi com grande tristeza que o recordei hoje. Foi, na verdade, um grande choque saber da sua morte. É sempre um choque quando alguém morre tão jovem...

Aqui fica a recordação, para todos os que saltaram ao som disto.


Private garden

Um banco de jardim na janela virada para o horizonte;

Um baloiço de pendurar naquele céu imaginário;

Um chão verdejante, que hei-de arranjar de alguma maneira;

Um sofá para dormir a sesta;

Trepadeiras, folhas verdes e flores, muitas flores...



O meu pequeno jardim, escondido por entre paredes, onde só olhares sonhadores serão permitidos.

Acontece...

Imaginem que estão sem comer há uma semana. Estão cheios de fome. Agora imaginem que alguém vos coloca à frente uma fatia de pão. Qual seria a primeira coisa que vos passaria pela cabeça? Talvez agarrar o pão e comer, não?! Estendiam o braço para alcançar o desejado pão e esse alguém, alienado do vosso estado faminto, agarra o pão e come. Como se sentiriam? Parece sádico, não parece?!

A mania dos porquês

Tudo é precioso para aquele que foi, por muito tempo, privado de tudo.

(Friedrich Nietzsche)

Quando li esta frase pela primeira vez, fez-me todo o sentido. Não é um sentimento que me seja, de todo, desconhecido. Mas as questões que se me levantam agora também não são novas para mim. A partir de quando é que podemos dizer que é muito tempo? Tem o tempo o mesmo valor em todas as circunstâncias? E que importância assume a privação quando o risco de vida não se coloca? E a importância mantém-se a mesma ao longo do tempo? E com que olhos, com que esperança encaramos o seu fim? Poderemos alguma vez habituar-nos à ausência e deixar de sentir a privação, deixar de sentir o seu peso? Com que direito fazemos contas ao tempo? E com que estado de espírito sentimos quando deixamos de estar privados?

Para algumas das perguntas encontrei respostas, não sei se as correctas, não sei se as verdadeiras. São as minhas respostas. Para outras, nem por isso...

Com Anna



Há dias assim...

Eia!



Let it snow, let it snow, let it snow! :D

Ensaio sobre a cegueira

Eram 7 horas quando soou o despertador. A hora habitual. Peguei nele desconfiada e de mau humor, como de costume. Que mania de me acordar tão cedo! Lá me resignei à ideia de me levantar e virei-me na cama. Sentei-me, calcei os chinelos e levantei-me. AHHHHHHHH... e o som estrondoso do corpo que cai!

Ainda meia atordoada, perplexa, assustada, senti a cama a dois metros acima de mim. Senti o meu corpo em contacto com uma superfície dura e fria. O chão da casa, presumi. Inspeccionei os pés... nada. As pernas... nada. A barriga, o peito, os braços... nada estava diferente. Oh não! As costas... as minhas asas?! Levantei-me e pus-me aos saltos. Vá lá, mexam-se! Vá lá!

Consegui alcançar o telefone. Liguei. Do outro lado, com uma voz fria e abafada, perguntaram-me se tinha sido assim de repente. Sim, foi assim de repente. Então, não há nada a fazer?! Não há nada a fazer!... Sentei-me no chão, aterrorizada.

Marquei o teu número. Como é que eu vou subir ao andar de cima? Como é que eu vou sair de casa? Como é que eu vou viver? Se ao menos, as ruas fossem revestidas por um pavimento... Que disparate! Mas então se nós voamos, para que precisamos de chão na rua?! Disseste-me. Pois, mas agora dava-me jeito...

E assim, de um momento para o outro, passei a ser considerada inapta para trabalhar na cidade flutuante. O estado dá-me um subsídio para sobreviver e, de vez em quando, alguém me vem buscar para ir dar um passeio. Eu agradeço!

Na verdade, o que eu queria era que não me tocasses com esse sentimento de pena e não me tivesses deixado. O que eu queria mesmo era que não me chamassem deficiente só porque esta cidade não tem um chão por onde eu possa andar. Sim, porque eu consigo andar, consigo mexer-me de um lado para o outro, desde que tenha um chão! Eles insistem que não tenho asas. As minhas mãos fazem tudo como antes, desde que consiga chegar às coisas. Eles insistem que não tenho asas. Não deixei de saber o que sabia, não deixei de ser quem era. Mas eles insistem que não tenho asas!

Agora, o despertador já não toca.

Nasceu!

Depois de anos de idealização, nasceu um dos milagres da concepção... o pequeno sustinho! Esperámos todos pacientemente a sua chegada e hei-lo feito ao mundo, com a bravura de quem é puxado pelo buraco da fechadura. Seja bem-vindo.

Parabéns!!

I wonder...

Às doze badaladas

Que em 2009,

1. tu e tu comecem finalmente a comunicar
2. tu defendas a tua tese brilhantemente
3. tu vás de malas aviadas para a Áustria
4. tu seduzas o gajo da tua vida
5. tu encontres a magia de viver
6. tu assines a estabilidade e satisfação profissionais
7. tu e tu partilhem a alegria da parentalidade
8. tu e tu pensem nisso muito a sério
9. tu e tu também
10. tu percebas que confiar não é assim tão difícil
11. tu sejas exactamente o que és e o que queres ser
12. eu vos receba em minha casa muitas vezes

Um 2009 cheio de desejos concedidos e sonhos realizados!