Viver é fazer meia com uma intenção dos outros. Mas, ao fazê-la, o pensamento é livre, e todos os príncipes encantados podem passear nos seus parques entre mergulho e mergulho da agulha de marfim com bico reverso. Croché das coisas...
(Bernardo Soares, Livro do desassossego)


Umas quantas explicações, outras tantas assinaturas

Sente-se o peso das escolhas, das decisões, dos caminhos a percorrer. De repente, a sensação de estar sozinha no meio de uma enorme sala vazia, sem janelas, sem portas, sem paredes... nada onde me encostar. A vontade quase impulsiva de correr para as saias da mãe e o corpo que hiperventila.

Três inspirações para um saco de papel e o entusiasmo do que aí está para vir. As ideias que se materializam, os projectos que se concretizam. O sonho e a fantasia prometidos em sopas de letras multicolor. Pedaços de papel que profetizam os anos vindouros.

É a vida ao rubro... A incandescência da idade adulta!
Her skin is white cloth,
And she's all sewn apart
And she has many colored pins
Sticking out of her heart.

She has a beatiful set
Of Hypno-disk eyes,
The ones that she uses
To hypnotize guys.

She has many different zombies
Who are deeply in her trance.
She even has a zombie
Who was originally from France.

But she knows she has a curse on her
A curse she cannot win.
For if someone gets
Too close to her,

The pins stick farther in.

(Voodoo girl, Tim Burton, 1997)

How the Grinch almost stole my Christmas

Cansada do circo de luzes em cada varanda, irritada com as repercussões do consumismo no trânsito, sem paciência para passar horas em frente ao fogão e a receber mensagens tabeladas sei lá bem de quem, entrei na quadra festiva.

Entrei na quadra festiva, pois que remédio... Mas não sem um sinal de protesto! Recusei-me terminantemente a comprar prendas!!! Esta coisa de chegar a Dezembro e encher a árvore de natal com embrulhos anda a deixar-me com uma ligeira urticária. Este ano decidi dizer NÃO, não compro! NÃO, não faço árvore de natal!! NÃO, não faç... pronto, tá bem a aletria eu faço!!!!

Porque é que chega a esta época do ano e anda tudo numa euforia por causa da generosidade, da paz, do amor, da tolerância?!!! O natal é sempre que o Homem quer, mas só se lembram disso em Dezembro, quando as lojas nos provocam crises epiléctricas, com tantas luzinhas a piscar. Eu prefiro ser generosa o ano todo e não precisar de pretextos para dar ou amar.

Ok, o Natal é uma festa da família, supostamente... Dizem os entendidos que a família é constituída pelos elementos que cada um identifica como tal. Ora eu fui convidada para um almoço com uma das minhas famílias. No meio de concursos tradicionais, mas pouco convencionais, de gargalhadas (des)propositadas, fotografias e de abraços verdadeiramente genuínos, surgiu-me o sentimento de amor. A vontade de apertar com força, os sorrisos sinceros e inevitáveis, a sensação de peito cheio...

Fez-me todo o sentido o espirito de natal, esse espirito que andou perdido... E enquanto eu o procurava no meio de bolas, fitas, luzes e estrelas douradas, ele estava no sítio mais evidente... no mesmo sítio com que me cruzo com ele todos os dias! Duuuuh

(Para dar um gostinho agri-doce à coisa, enquanto escrevo isto, chovem mensagens no telemóvel!!! Ai Grinch, Grinch!)

The Face

De uma mama passou a um par de mamas, numa tentativa de que fossem olhos. Foi acrescentado um nariz para disfarçar, o que deu, claramente, um par de outras coisas! Para não parecer mal, juntaram-se uns lábios, mais abaixo...

E voilá!

(RD, 2008)

Limpar o vidro?! Nah... no way!!!

Cheque chorudo...

E a coisa oficializou-se!

Lógica bruniana e um jantar a quatro!

Aparentemente, 3 de nós são assexuados...

A música era muito boa, o ambiente era porreiro, as sombras um espectáculo... As cartas foram lançadas e houve quem não percebesse nada!

As opiniões divergiram e como alguém disse: "as opiniões são como as vaginas, cada um tem a sua e quem quer dá-la, dá"!

No meio disto tudo, a única coisa que era verdade é o T4.


Ai que saudades eu tinha de nós!!!

Às vezes lembro-me...

Lembro-me das histórias que contaste e das que não contaste...
Lembro-me da força e da coragem... da determinação!
Lembro-me da cadeira e de ti lá sentada...
Lembro-me das chinelas à entrada da porta...
Lembro-me do orgulho que mostravas nas minhas costas.

E, às vezes, ao lembrar-me esqueço-me... e depois caio em mim.

Dramas e tramas

Por vezes, damos connosco em situações que nos oprimem, nos angustiam, nos amarram... E por vezes, a solução passa por dar um grito, por dizer basta.

Nem sempre nos conseguimos soltar... Como ajudar alguém a proferir o som agudo que vem das entranhas? Como ajudar alguém a libertar a alma?

Não sei como, nem porquê, mas soltar o grito com cheiro a naftalina, que ficou esquecido de outros tempos, foi o meu contributo. Gritei... gritei bem alto como se eu própria estivesse desesperada. Gritei aquele grito que tantas vezes ficou cá dentro...

O efeito foi evidente. E o mais curioso é que foi terapêutico também para mim! São misteriosos os caminhos que encontramos para ajudar os outros... misteriosos e surpreendentes. E quando menos expectativas disso temos, recebemos de volta na mesma proporção.

Foi uma sessão intensa e de tal forma marcante que ainda me dá arrepios!

Memórias de um cuidar

Knitting some walls

(Retirado na net)

Gestão caseira


Ela vai para fora e deixa-o sozinho com o puto...


Lógica feminina:

Querido, deixo-te comida embalada e etiquetada, no frigorífico.



Lógica masculina:

Se a criança está no frigorífico, onde meti as cervejas?!

Feitas as contas...

(Somiedo, 2008)


Tombos vários...
Um tendão queixinhas...
Um chocolate quente...
Una tabla de jamon...
Una tabla de cecina...
Una tabla de quesos...
Algumas cabeçadas na cama de cima...
Muito boa disposição!

Quando repetimos?!

Isso é que era...

Foi provado que os cabelos matematicamente se embaraçam. O que eu gostava era que o embaraço fosse apenas matemático!

Ilusões temporais

Vivemos numa ânsia do amanhã, colados ao que foi ontem e esquecemos-nos, muitas vezes, do compromisso que temos hoje.

Ajustando os crampons



Vamos lá ver se não me esqueço das unhas!

Penso, logo adesivo

Qualquer enfermeiro que se preze utiliza o adesivo de forma adequada e criativa. É que quando os problemas parecem insolucionáveis, o adesivo faz milagres!

A casa de banho do sitio a que alguns chamam de centro de saúde, anda às escuras há uns tempinhos... Hoje, este facto chateou-me profundamente. Não via nem para acertar com a sanita, bolas!

Não foi preciso ser um génio para perceber o problema... uma questão de interruptor. Feito o diagnóstico, impunha-se a solução... ADESIVO, pois tá claro! E... puf, fez-se luz.

Senti um grande orgulho de mim mesma. Hoje, fui realmente enfermeira!

E assim consegui satisfazer algumas necessidades plenamente convicta do que estava a fazer!!

O meu lado obscuro

É tão obscuro, tão obscuro, tão obscuro, que nem eu o conheço!

Aula concerto

A filosofar é que a gente se entende

Um grande Homem é aquele junto do qual nos sentimos crescer.
(Michel Renaud)

Paradoxo socrático

Quanto mais sei, mais ignorante me sinto...

O caminho faz-se caminhando!

(Bond of Union, 1956, MCEscher)

To my dear bunny

(Keukenhok, Holland 2008)

Privilegiadamente triste

Porque eu existo. Eu existo, e ela, livre, solitária, eterna, ei-la sujeita à minha existência, não podendo evitar o facto brutal da minha existência, presa à sucessão mecânica dos seus momentos.

(O sangue dos outros, Simone de Beauvoir)

Sensações de Outono

Pequenas coisas marcaram hoje o meu dia e fizeram-me sentir muito viva...

... a água quente nas costas, o ar frio na cara;

... as cores fortes das árvores;

... o cheiro das castanhas assadas;

... o som de um bandolim melancólico;

... o sabor de um chá de jasmim açucarado.

Por alguma razão, ou simplesmente porque sim, os meus sentidos estiveram extremamente apurados... Mas a melhor sensação de todas foi a consciência de me sentir viva!

Remexendo no baú...

Estando em arrumações, nas profundezas da gaveta de papéis abandonados, descobri duas pedras preciosas. Descobri dois cartões gigantes que um amigo me mandou há uns anos valentes. Reler aquelas palavras aqueceu-me o coração e algumas coisas tocaram-me profundamente. Fiquei feliz por me lembrar dessa pessoa infinitamente boa e da forma como contribuiu para o "meu mundo melhor", como ele lhe chamava; mas também fiquei triste porque deixou de fazer parte da minha vida. Já não me recordo o que condicionou o afastamento, já lá vão uns bons anos... mas talvez a distância física e alguma imaturidade tivessem sido determinantes.

Tenho muitas saudades tuas foi o que me disse num desses cartões, e hoje eu retribui o sentimento. Foi muito bom recordar a relação bonita que tivemos.

Female Warrior

(Fonte: www.glyphweb.com/esky/star/bellatrix.html)

Once upon a time there was...

(Chicago, 2007)

Halloween... and
Felicity... and
Girls night... and
The lab... and
The bus n.º 6... and
The Bonjour... and
The Winter garden... and
A lot of nice people...

But most of all, there was you!

Black eyed pea & Brown eyed pea

(Chicago, 2007)

Tenho saudades tuas... talvez já tenha comentado contigo!

Em memória de um disco quebrado



E como eu gostava de ouvir aquele disco!

Contributos

Deus nos livre dos ignorantes com criatividade.

(Frei Bernardo)

Ao pé da água...



Tocaste para nós e foi muito bom!
Todos somos responsáveis por tudo perante todos.

(Dostoievski)

It's too late to apologize...

(Paris, 2006)

Le premier cri




Segundo uma lenda Talmudica quando nasce uma criança ela trás consigo o conhecimento das suas vidas anteriores.

É nesse momento que aparece um anjo e lhe ordena que faça desse conhecimento um segredo. O anjo encosta o seu dedo ao lábio da criança e, nesse preciso instante, ela esquece tudo para entrar na sua nova vida.

Do gesto do anjo fica uma marca: o pequeno sulco que temos entre o lábio superior e a base do nariz.

Só então ela solta o primeiro grito.


(Gilles de Maistre / Marie-Clare Javoy)



Uma mostra muito emotiva do quão bela pode ser a crueza do nascimento. Uma visão de pontos do mundo tão distantes, concepções de vida tão distintas.

Chorei o filme todo! Mas também sorri, com o peito bem cheio...

Unic ornie

Quase corria mal, mas não correu... e isso fez toda a diferença!

I did it again!



O fascínio dos esqueletos!

A corda que partiu...

O som irritante das oitavas superiores!


Obrigada!

Investigação

(Porto, 2008)

Whatever

Não quis guardá-lo para mim
E com a dimensão da dor
A legitimar o fim

Eu dei
Mas foi só para mostrar
Não havendo amor de volta
Nada impede a fonte de secar

Mas tanto pior
E quem sou eu para te ensinar agora
A ver o lado claro de um dia mau

Eu sei
A tua vida foi
Marcada pela dor de não saber aonde dói

Mas vendo bem
Não houve à luz do dia
Quem não tenha provado
O travo amargo da melancolia

E então rapaz,
Então porque a raiva se a culpa não é minha
Serão efeitos secundários da poesia

Mas para que gastar o meu tempo
A ver se aperto a tua mão
Eu tenho andado a pensar em nós
Já que os teus pés não descolam do chão
Dizes que eu dou só por gostar
Pois vou dar-te a provar
O trago amargo da solidão!

É só mais um dia mau, mau, mau

(Ornatos Violeta, Dia mau)

Aujourd'hui

Oh triste sorte!!

Parece que existe um artigo da New Scientist que sugere que os canhotos têm maior risco de morte acidental. Uma das explicações para tal facto é apresentada por uma nova iorquina e diz o seguinte:

Em geral, quando se aproximam de um obstáculo, as pessoas dextras contornam-no pela direita, ao passo que os canhotos o fazem pela esquerda. Se duas pessoas com a mesma tendência se aproximam de um obstáculo vindas de direcções opostas, contorná-lo-ão em segurança sem chocarem uma contra a outra. Se duas pessoas de tendências diferentes se aproximarem de um obstáculo vindas de direcções opostas, contorná-lo-ão pelo mesmo lado, o que pode dar origem a um eventual choque. Uma vez que a maior parte das pessoas é dextra, são os canhotos que mais vezes se encontram nesta situação e levam encontrões. Levado ao extremo, e multiplicado por uma vida inteira de encontrões, dá como resultado uma esperança de vida mais curta para os canhotos.

(In Porque não congelam os pinguins?, New Scientist)


Ora isto deixou-me a pensar...

Seguindo esta linha de raciocínio, as coisas são capazes de complicar para o meu lado. Se não, vejamos...

Sendo eu ambi-dextra, quando me aproximo de um obstáculo, o mais provável é chocar contra ele por uma indecisão momentânea em escolher entre a direita e a esquerda. Ora, como paralelamente, tenho alguns problemas em definir a minha lateralidade, decorrentes dessa ambi-dextridade, o mais provável seria então escolher posteriormente a direita para contornar o obstáculo e chocar contra o pobre dextro que tão inocentemente se aproximou (afinal devia ter escolhido a OUTRA direita!). E já lá vão dois encontrões. Com um bocadinho de sorte, decido então escolher o lado correcto e dou de caras com um canhoto. Não seria nada do outro mundo! E com isto, o risco de morte ACIDENTAL, é 3 vezes superior ao dos canhotos. Tou feita ao bife!!! Eu só espero que o acidente tenha muita pinta e seja qualquer coisa do género cair-me um piano em cima... porque não?! Não me faz diferença que seja canhoto ou dextro!

Sério?!

Hoje, o iogurte falou comigo e disse-me:

"És mais doce que açúcar! Teu, pasteleiro."

Dei-lhe logo uma lambidela, não fosse ele mudar de ideias... Mas acho que me confundiu!

Expectations

(Paris, 2006)

Ciência com humor

Porque as dançarinas ovulam...

Porque as pulgas saltam...

Porque as batatas fritas podem não ser tão estaladiças quanto parecem...

Porque os cabelos matematicamente se embaraçam...

... a ciência está cá para nos dar resposta às questões mais elementares da humanidade, mas com muito sentido de humor!

Feminismo

Metade vítimas, metade cúmplices, como toda a gente.

(J.P. Sartre)

Escaladores gratinados, com cordetas e cordelinos

Dificuldade:
  • 5º grau (7º psicológico)
Tempo de confecção:
  • 2 horas (se é experiente demorará cerca de meia hora)
Ingredientes:
  • 2 escaladores inconscientes
  • 2 lanços de placa manhosa
  • 1 corda
  • 2 cordinos
  • 1 cordeleta
  • 1 reverso
  • engonhanço a gosto
Modo de preparação:
  1. Ate cada um dos escaladores com um cordino;
  2. Pegue numa placa manhosa e junte os dois escaladores unidos pela corda. Deixe em lume brando, até o 1º escalador montar reunião com a cordeleta. Tente evitar ao máximo reuniões improvisadas e nós na corda;
  3. Deixe cozinhar lentamente até o 2º escalador atingir o mesmo ponto do 1º, o que deve demorar algum tempo;
  4. Mude para o 2º lanço da placa. Vá mexendo até o 1º escalador atingir a 2ª reunião e se aperceber que afinal precisava de mais uma cordeleta. Improvise...
  5. Vá juntando engonhanço a gosto até a reunião ficar bem temperada;
  6. Quando o 2º escalador se encontrar no ponto, leve a gratinar ao forno solar durante o tempo necessário para os escaladores perceberem como vão desmontar o embroglio da reunião e como vão desfazer o nó da corda, que entretanto se formou inexplicavelmente;
  7. Monte o reverso e faça lá passar a corda, de maneira a poder descer os escaladores em segurança para a travessa. Este passo é particularmente importante. Nunca, em circunstância alguma, coloque o reverso ao contrário;
  8. Enquanto desce os escaladores para a travessa constate que o ponto anterior falhou e que não poderá fazer mais nada a não ser rezar (e esperar que alguém ouça) para que tudo corra bem;
  9. Sirva ainda quente.

Sleeping beauty

(Baiona, 2008)

Climbing sugar rocks

(Baiona, 2008)

Are we there yet?

Jazz à entrada...

Um sofazinho e uma mesa demasiado desocupada!

Rodolfo... sim, a rena do pai natal, deu ar da sua graça...

As pipocas estavam fermentadas... ou teria sido a mousse?

E a palestra?! A palestra correu bem...

Blop!
Two things are infinite: the universe and human stupidity... and I'm not sure about the universe!
(Albert Einstein)

Bombocas e um copito de vinho!

(IM / RD, 2008)

(IM / RD, 2008)

Give me your hand

Caixinha de bonecas

Num mundo encantado de bonecas,
tratadores de bonecas
e um irritante trovador,
Deu-se à corda, ao violino, ao magnésio...
Soltaram-se fantasias, flores e acrobacias.

Recomeçar

"Em que época do ano estamos? E isso interessa? Tudo é repetição e tudo só acontece uma vez. O fim está no princípio e no entanto prosseguimos!"
Iluminada pela lua, ao som de mim própria e com pedrinhas de chupar nos bolsos, prossegui...

Pronto, tá bem...

...ando numa de revivalismo!

É que ía a caminhar na rua e encontrei a minha infância! Dei-lhe um abraço apertado... Fomos tomar um café e conversamos durante horas! Recordou-me imagens que estavam bem no fundo do baú, já descoloradas, com muito pó e alguns fungos. Combinamos um almoço para breve...






E já agora...



Oh pah... o vitinho!!!

Ciclo Vital

1. A era das fraldas...


[...quem é que se lembra de cantar isto?!]


2. A descoberta da televisão...


[...faz e sempre fará parte da minha lista de músicas...]


3. Maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaãe... (maldita puberdade!)


[...se procurar bem sou capaz de ainda encontrar a cassete!]


4. Adolescência! (mas o que foi isto?!)


[...confesso que comprei todos os cds disponíveis na altura e confesso que tive uma tara com os gajos!!! Graças aos santinhos curei-me... Os cds, esses ainda estão na prateleira, claro. Relíquias!]


5. O tempo da pintarola...


[...a coisa começa a compor-se...]


6. Brincando às casinhas...


[...eu diria que não estou nada mal...]


7. ...
[...vamos lá ver onde o futuro me leva... eventualmente, de volta à era das fraldas!]

Dádiva

"A casta beleza do ventre de uma grávida: pousa a mão devagar em cima dessa carne, terra sagrada, e ficas repassado de mistério. Um novelo de carne ainda sem nome sem rosto sem destino certo cresce oculto leve livre, mola de incalculável poder, uma vida às cambalhotas lá dentro que vai anunciar-se num grito o primeiro grito. A mão corre amorosamente sobre a pele tensa presa no ventre é uma ameaça e o feto encabrita-se escorrega foge tomado de um súbito pavor. Talvez chore. Mas a mãe, que tudo sabe e de tudo o protege e guarda, não chora, sorri. Um orgulho cresce no seu olhar, o pacto lealmente cumprido, a dádiva maior ao Amado, o seu sangue (dele, dela) moldado em carne nova transfigurado num corpo livre. Ah, não ser eu a grávida e saber-me deus!"

(in Os namorados, Luiz Pacheco)

Amarrei-o...



... e foi o que se viu!

Memórias de um cuidar


Conforme me contava a sua história,

as lágrimas corriam pela cara
daquela mulher vestida de preto, por fora e por dentro.

Não consegui conter-me e chorei com ela...

(In portfólio IM, 2007)

Fénix

Acordei um dia, mesmo antes de me deitar, e vi a sua perda acontecer-me num acto impiedoso de pura intuição. Desaparecera… para sempre… E do que outrora parecera tão claro e límpido restava agora apenas a inconsciência do nada que nunca existiu.

Intersecções

"Um incidente trivial; vivê-lo, um heroísmo trivial. A. tem um importante negócio a concluir com B. da aldeia vizinha H. Vai até H. para combinar o encontro, faz o caminho de ida e volta em dez minutos para cada lado e em casa ufana-se da sua grande rapidez. No dia seguinte volta a H., desta vez para fechar definitivamente o negócio; uma vez que este previsivelmente demorará várias horas, A. parte de casa manhãzinha cedo; apesar de todas as circunstâncias, pelo menos na opinião de A., serem exactamente as mesmas do dia anterior, desta vez precisa de dez horas para chegar a H. Quando aí chega, à noite e já sem forças, dizem-lhe que B., zangado com a demora de A., partira há mais de meia hora para a aldeia de A.; na verdade, ter-se-ão certamente cruzado um com o outro. Aconselham A. a esperar, B. já deve estar a voltar. Mas A., receando pelo negócio, põe-se logo a caminho e apressa-se a voltar para casa. Desta vez, e sem sequer dar conta disso, faz o caminho de regresso num abrir e fechar de olhos. Já em casa dizem-lhe que B. tinha chegado muito cedo, ainda antes de A. partir, sim, tinha até encontrado A. junto ao portão da casa, tinha-lhe lembrado o negócio, mas A. tinha respondido que agora não tinha tempo, que tinha de se apressar. Apesar deste comportamento incompreensível de A., B. tinha ainda assim ficado para esperar por A. Perguntara até várias vezes se A. tinha já voltado, mas estava ainda lá em cima no quarto de A. Contente por ainda poder falar com B. e esclarecer tudo, A. sobe as escadas a correr. Já está quase lá em cima quando tropeça, torce o pé e, quase a desmaiar de dor, incapaz até de gritar, gemendo apenas no escuro, ouve e vê B., sem perceber se estaria muito longe ou mesmo ao lado, que desce as escadas furioso e desaparece para sempre."


(in Contos, Franz Kafka)

Stairway to heaven


Sessão de abertura...

(San Francisco, 2007)


... ou de encerramento