Viver é fazer meia com uma intenção dos outros. Mas, ao fazê-la, o pensamento é livre, e todos os príncipes encantados podem passear nos seus parques entre mergulho e mergulho da agulha de marfim com bico reverso. Croché das coisas...
(Bernardo Soares, Livro do desassossego)


Running...

(Amesterdão, 2008)

Esta vida de trolha... IV

... é muito solitária, cansa e nunca mais acaba!!

Pronto, já me queixei.

Injustiças da vida

Ontem tive de administrar uma injecção a um rapaz de 21 anos. Poderia ter sido uma como tantas outras. Mas não foi. Este rapaz em particular, o Carlos, tocou-me profundamente o coração. Tinha acabado no dia anterior um ciclo de quimioterapia e estava ali para tomar um medicamento que iria ajudar a diminuir os efeitos secundários.

Trazia garra no olhar, o Carlos. Era um rapaz engraçado e parecia querido; um rapaz que parecia enfrentar a vida com coragem. Quase podia jurar que entrou na sala com um sorriso, mas não tenho a certeza. Pedi uns minutos para me inteirar do que ia administrar e ele explicou-me quando e onde costumava fazer. Detesto esta injecção - disse-me - detesto porque é na barriga. Tentou negociar comigo se poderia ser noutro sitio. Tive de lhe dizer que, noutro sítio, o tempo de absorção seria diferente e que não sabia se isso era importante para este medicamento em particular. Assentiu, sem qualquer resistência.

Sentou-se na marquesa encostada à parede e reparei que as mãos dele tremiam. Sentei-me ao lado dele e esperámos, em silêncio, que se sentisse preparado. Respirou fundo, olhou para mim e levantou a camisola. Foi doloroso.

Mesmo antes de deixar a sala, agradeceu-me com um sorriso sincero, assim me pareceu, que eu retribuí. Senti as lágrimas a caírem-me pela cara abaixo. Partiu-se-me o coração!



Obrigada Carlos, por me lembrares que tenho toda a liberdade para sonhar.

Diálogos

- Estás a falar sozinha?

- Não. Estou a falar comigo, a pessoa que melhor me entende!



(Obrigada Isa, é isso mesmo!)

La toma

Fui ontem ao Gato Vadio ver a exibição de um filme documental sobre a crise económica na Argentina e as alternativas a um sistema desgastado. O documentário mostra vários grupos de trabalhadores que decidiram, após a falência e encerramento da fábrica onde trabalhavam, tomar eles próprios o controle, criar as suas próprias regras e pôr em marcha a produção. Mostra como esses trabalhadores conseguiram não só manter a fábrica em funcionamento, mas também criar postos de trabalho. Questiona o sistema económico actual, questiona as regras do FMI, questiona o sistema político e deixa-nos a pensar para onde estaremos a caminhar. Fiquei a saber que existe um caso destes em Portugal. Uma empresa de confecções em Arcos de Valdevez que, 3 anos após "la toma" pelos trabalhadores, conseguiu liquidar as dívidas que tinha e criar postos de trabalho. Dá que pensar...

Deixo o primeiro trecho, para aguçar a curiosidade e o link para os restantes, para quem quiser ver o filme na integra.





http://www.youtube.com/watch?v=GsacA7Jasaw

http://www.youtube.com/watch?v=rfbztoTXlXk


http://www.youtube.com/watch?v=toFqvh2Ktoc


http://www.youtube.com/watch?v=F5eRo7TPSms

http://www.youtube.com/watch?v=19j_T1WeGlo

http://www.youtube.com/watch?v=eyMQ1hfyOAA

http://www.youtube.com/watch?v=HelwFDhZoMs


http://www.youtube.com/watch?v=tr8ZyoxdnYM

Lá fora, chove...




Às vezes, as coisas mais bonitas são as mais simples.

Eureka



Certo dia, a música tem um encontro imediato com a geometria. Nunca mais as escalas foram as mesmas.

Feel like dancing?



Estava, mais uma vez, parada no trânsito e soou isto das colunas fantásticas do meu carro. Deu-me uma enorme vontade de dançar. Veio-me à ideia o andanças e lembrei-me que já não está longe. Um shot de energia mesmo a calhar, depois de um dia de trabalhos esforçados.

Missing already

(Porto, 2009)

Porque não?



A minha costela clássica é pesada, muito pesada... não sei se a consigo deixar, não sei se quero. Mas o fascínio pelo jazz, esse mundo misterioso da criatividade, também é grande. Poder entrar num, sem ter de deixar o outro é uma ideia que me agrada. É uma ideia que olho com muito respeito. Mas, quem sabe?... Pode ser que me dê para aventuras...