Viver é fazer meia com uma intenção dos outros. Mas, ao fazê-la, o pensamento é livre, e todos os príncipes encantados podem passear nos seus parques entre mergulho e mergulho da agulha de marfim com bico reverso. Croché das coisas...
(Bernardo Soares, Livro do desassossego)


Despertar...

Quando me inscrevi nas aulas de piano, estava, pensei eu, a comprar uns bons momento de lazer e de relaxamento. Pois enganei-me... redondamente! Não fiz mais do que acordar o monstro. O monstro adormecido já lá vão mais de 10 anos.

Comprei inquietude! Se, pelo menos, o meu piano chegasse de uma vez por todas... talvez me passasse esta compulsividade, esta enorme vontade de tocar, tocar, tocar... talvez eu não tivesse de tomar decisões que não quero e das quais me posso vir a arrepender.... talvez pudesse constatar que é possível conjugar as sobras de uma fase da vida que termina com os sonhos da que dá os primeiros passos.


Apetece-me só ser... Terei coragem?!

Manjar de rosas



Convida-se uma amiga para jantar.

Temperam-se uns bifes de frango com limão e coentros. Faz-se um refogado com os bifes e juntam-se cogumelos, natas e salsa a gosto. Serve-se com arroz seco.

Vai à mesa a acompanhar com Mozart e um bom vinho!

À sobremesa as agridoces questões da vida...


E que bom que estava!

Esta vida de dona de casa... II

Lavar a roupa...

Pus a máquina da roupa a funcionar. Seja o que deus quiser, a companhia de água e luz deixar e a máquina for capaz. Pelo sim, pelo não, comecei pelas toalhas... não vá a coisa correr mal!

Esta vida de dona de casa... I

Cozinhar....

Passar de uma placa a gás para uma placa de indução não é fácil e exige um apurado sentido de coordenação. Basta tirar os olhos do fogão um segundo e já está tudo fora do tacho! Há, então, que aprender a dosear o calor... Certo! Numa placa de gás é fácil. Há o máximo e o mínimo, não há dúvidas. Dosear o calor numa escala de 9 intensidades é ligeiramente mais complexo. E, depois, ainda há quem ache que cozinhar é dar música!

Confusões à parte, a pasta com refogado de atum, cogumelos e especiarias ficou uma delicia!

Trilos a 120

Estou a estudar uma sonata de Mozart. Sim, ainda a mesma. Aquilo rende... E agora há que encaixar com os trilos. Malditos trilos! Ora não entra a tempo, ora sai a esquerda do tempo, ora falha a entrada das notas. Malditos trilos!! Páro, recomeço, páro, tento de novo, mais devagar, agora mais depressa. Ahhhhhhhh.

E nisto, a sensação foi-me familiar. Fez-me lembrar quando aprendi a andar de ski! Cai, levanta, tropeça e dá com o ski na canela e cai. Perde o ski. Escorrega e cai. Levanta e cai e levanta.

Não está ser muito diferente dessa dança de trambolhões (com excepção dos hematomas, vá!). E a boa noticia é que, ao fim de uma tarde de treinos, eu consegui fazer a minha primeira pista.

2010

Ano do bota fora...

(with the compliments of MM)

Sessão fotográfica


Já não me lembrava de ter vontade de pegar na máquina fotográfica e disparar. Já não me lembrava de sentir o entusiasmo. De brincar com os ângulos e com a perspectiva e com a luz. Mas hoje, eu e a fada que anda lá por casa, tivemos toda uma sessão fotográfica por nossa conta. E que bem começa o ano!

Que sera, sera

Onde é que eu já vi isto?

"Um som ou alguma coisa verdadeira a existir. A nascer, a crescer, a viver. Uma coisa verdadeira e infinitamente bela a agitar-se no ar do salão. Um lamento. Uma angústia a transformar-se de repente numa alegria grande. A caminhar, a correr, a dançar. Um sonho bom a transformar-se numa alegria branda. Glória e espanto. Um som a existir muito. O ar do salão cheio de um milagre invisível. Um segredo profundo a atravessar-nos. Uma emoção a continuar para onde não se imagina. A vida condensada e repetida. Um momento ao qual não tínhamos a certeza de poder sobreviver. Recordações e a explicação simples da vida. O mistério mais impossível e a revelação mais clara. Cores: branco, azul, verde, branco, luz, negro, azul, céu, branco. Nenhuma cor. Água. Silêncio a falar a língua da claridade numa voz de manhãs. Um som ou alguma coisa verdadeira. Tudo isto e nada disto era a música."

(Uma casa na escuridão, José Luís Peixoto)


Reconheci isto de algum lado. E até acho que sei de onde foi. E o curioso é que parece que está a falar das minhas aulas de piano!...