"A casta beleza do ventre de uma grávida: pousa a mão devagar em cima dessa carne, terra sagrada, e ficas repassado de mistério. Um novelo de carne ainda sem nome sem rosto sem destino certo cresce oculto leve livre, mola de incalculável poder, uma vida às cambalhotas lá dentro que vai anunciar-se num grito o primeiro grito. A mão corre amorosamente sobre a pele tensa presa no ventre é uma ameaça e o feto encabrita-se escorrega foge tomado de um súbito pavor. Talvez chore. Mas a mãe, que tudo sabe e de tudo o protege e guarda, não chora, sorri. Um orgulho cresce no seu olhar, o pacto lealmente cumprido, a dádiva maior ao Amado, o seu sangue (dele, dela) moldado em carne nova transfigurado num corpo livre. Ah, não ser eu a grávida e saber-me deus!"
(in Os namorados, Luiz Pacheco)
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